Constantemente, eu choro pelos meus mortos. Não me reviro àqueles que de uma forma ou de outra morreram pra mim. Mas sim aqueles que literalmente partiram dessa pra uma melhor.
Ontem mesmo estava no banho, quando ouvi alguém assobiando junto com uma música que tocava na rádio. Em poucos instantes, no labirinto das minhas memórias, vi e ouvi meu pai assobiando da mesma forma que ele fazia quando pintava a casa ou o portão em dias de folga. Abri meus olhos e o assobio continuava. Sai do banho e perguntei ao meu namorado se ele estava assobiando com a música. Ele disse não e que nem tinha escutado nada. Desconversei e fui arrumar a mesa para o jantar. Esqueci o assunto.
Hoje, no carro, em direção a aula de inglês, tocou uma música nova do Skank. Eu já tinha escutado, mas não tinha prestado atenção na letra até ouvir o verso
"Mas quando eu estiver morto/Suplico que não me mate, não/Dentro de ti, dentro de ti".Em segundos, lembrei dele, do assobio de ontem, e cai em lágrimas diante da sinaleira que eu aguardava o sinal verde. A nostalgia deu o ar da graça e o choro me confortou de alguma forma.
Como eu queria que ele tivesse aqui pra conhecer o Maicon, o nosso ap, as coisas que conquistem nestes três anos e meio de sua ausência física. Dói. E eu, definitivamente, ainda não consegui lidar com isso.
(Maria Fê um tanto quanto melancólica, mas sem perder o sorriso fácil de sempre)